*Por Clara Camarano – redacao@daiblog.com.br
A mostra competitiva da 49ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro chegou ao fim na última segunda-feira com o que poderíamos chamar de uma “facada no estômago”. Facada, no sentido de tratar de várias questões que perturbam e mexem com o espectador. Tanto que a reação geral da plateia foi de choque após assistir ao longa-metragem Deserto, de Guilherme Weber.
Entre risadas nervosas, às vezes constrangedoras, a plateia aplaudiu a ousada produção de estreia no cinema do ator.
Foto: Junior Aragão |
O curta-metragem Os Cuidados Que Se Tem Com O Cuidado Que Os Outros Devem Ter Consigo Mesmos (SP), de Gustavo Vinagre, embora mais leve, não deixou também de embutir uma mensagem ácida e chocar. Na sinopse do curta, uma simples, porém profunda reflexão: “Tan precisa chorar”. É dentro deste mote que segue um bate-papo de jovens que se chamam de “bi”, gíria comumente usada na comunidade LGBT.
Os Cuidados que se tem com o Cuidado que os Outros devem ter Consigo Mesmos. Foto: Manoela Cezar |
Entre diálogos aparentemente “viajantes”, estes jovens, interpretados por Caetano Gotardo, Nash Laila, Julia Katharine e Luiz Felipe Lucas vão traçando uma história de convívio e de conflitos internos. Frases como “Um cachorro normalmente já nasce com sentimento, um ser-humano nem sempre”, dentre outras tiradas alfinetam quem está assistindo. Apesar de se mostrar frio, o personagem Tan (Caetano Gotardo) é um dos atingidos e levado ao choro compulsivo. A produção mostra que mesmo no simples é mais que possível arrancar aplausos pelos belos detalhes.
Os Cuidados que se tem com o Cuidado que os Outros devem ter Consigo Mesmos. |
Dando continuidade, o longa-metragem carioca Deserto chegou com a responsabilidade de encerrar a mostra competitiva. E foi com todos os quês de irreverência que Guilherme apresentou a obra baseada no livro Santa Maria do Circo, escrito pelo mexicano David Toscana. Uma trupe de artistas batalha para ganhar a vida no meio do nada do sertão nordestino. Tomados pelo cansaço e pela falta de sentido da vida, os mambembes param em um vilarejo abandonado e resolvem formar uma comunidade entre eles.
Deserto |
É dentro deste cenário que é traçada a trama, que conta com a bela atuação de Lima Duarte no papel de um velho bêbado e desolado. Figuras de vários tipos, desde um típico machão, um anão, uma mulher sem cabelos, formam esta trupe que agora terá que inverter os papéis. Como diria o filme, “Agora não são os atores que vão escolher os papéis, mas sim os papéis que vão escolher os personagens”.
Deserto |
É neste desenrolar que a crítica ferve ao mostrar o machão desempenhando o papel de uma puta, um padre anão que faz sexo com os confidentes, dentre outros. Tudo isso com dosagens cavalares de cenas de sexo que mostram a decadência da vida civil. Críticas não faltam dentro da produção. No entanto, o diretor exagera ao misturar inúmeros elementos em 100 minutos que poderiam ser cortados. Narrativa lenta, exageros que passam do ponto acabam por não dar o total mérito que o longa-metragem merecia. Mesmo assim, a produção incomodou e tirou aplausos, principalmente da ala que admira os chamados filmes cults.
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