Diretor do curta Baunilha conversa sobre seu curta BDSM

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Representante de Pernambuco, um dos estados mais presentes no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o curta-metragem Baunilha trata do universo do sadomasoquismo. O filme faz parte de uma trilogia relacionada com os desejos. O diretor da produção, Leo Tabosa, conversou com o  Cine61 sobre o filme, que está na Mostra Competitiva do evento:

Baunilha faz parte de uma trilogia, certo? Comente sobre como é o projeto como um todo.

O projeto, Trilogia do Desejo, teve início com o curta-metragem documental Tubarão. Tubarão conta a história de Dale, um norte americano que realiza filmagens amadoras, de pegação gay, em banheiros públicos, na cidade do Recife. Há uma emoção profunda no universo de Dale, a morte devastadora do seu companheiro e amante. O desejo principal a ser contado em Tubarão é o desejo do personagem em se conectar à sua nova realidade, mostrando as diferentes maneiras que as pessoas podem buscar para superar uma perda, sem apresentar nenhum julgamento ou mesmo conclusão. A proposta da trilogia é sempre contar uma história real e que essa história seja compreensível e que leve o espectador a uma reflexão, a um novo olhar sobre o tema que estou tratando. Meu cinema se interessa pelo contemplativo e pela observação dos fatos comuns ao redor dos personagens. Muitos deles, à deriva de seus sentimentos, buscando através de desejos íntimos uma conexão com uma sociedade que muitas vezes os oprimem. Em Tubarão e Baunilha procurei personagens que vivem uma existência comum e que, ao mesmo tempo, são marginalizados pela sociedade. Os meus personagens são movidos pelo desejo. O desejo é o combustível que os movimentam.

E qual é o próximo filme da trilogia?

O próximo filme para fechar a trilogia será O Devotee, que contará a história de um homem que se sente sexualmente atraído por pessoas com deficiência e sua predileção por algum tipo de equipamento assistivo como: cadeira de rodas, muletas, aparelhos ortopédicos, bengalas. No momento estou trabalhando no segundo tratamento do roteiro.

Seu curta tem cenas numa masmorra real. É possível ver práticas sadomasoquistas de verdade no filme ou tudo é ficção?

Baunilha é um filme documental. O Estúdio do Mestre Brenno Furrier fica no bairro de Boa Viagem, Recife – PE – (www.brennofurrier.com). É um dos estúdios de BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) mais bem equipados da América Latina. É referência para comunidade de BDSM brasileira. O Estúdio recebe pessoas de todos os estados brasileiros e estrangeiros, principalmente, da América Latina. As cenas de dominação são reais e foram registradas de forma respeitosa e com o consentimento dos envolvidos. Tomamos o cuidado para não identificar os submissos e o Mestre Brenno Furrier. Baunilha foi produzido de forma independente sem editais de incentivo à cultura. Todos os envolvidos na equipe técnica do filme assinaram um termo de confidencialidade e sigilo para preservar a integridade física e moral do Mestre e frequentadores do Estúdio.

A temática, mesmo popularizada nos cinemas recentemente como Cinquenta Tons de Cinza, ainda é um tanto polêmica. Seu filme busca trazer isso de forma natural? Como foi sua visão sobre este tipo de prática?

O meu objetivo nunca foi debater a prática BDSM ou discutir o que é certo ou errado. Não tenho interesse em emitir julgamentos morais sobre a vida particular do Mestre Brenno Furrier e dos submissos que procuram seu estúdio para satisfazerem seus fetiches. A preocupação é mostrar um novo olhar, uma nova abordagem sobre um tema, injustamente, desgastado pela indústria de entretenimento adulto. Os filmes pornôs apresentam uma visão deturpada do universo BDSM, passam a ideia de uma prática bizarra.  Aprendi que o BDSM é uma relação de dominação e submissão, é troca de poder, de forma consentida, em que os limites do submisso ou submissa, obrigatoriamente, têm que ser respeitados. Dominação não é abuso, perversão, algo imposto ou manipulação. O filme Cinquenta Tons de Cinza (2015), de Sam Taylor-Johnson, infelizmente, aborda o tema de forma equivocada sem compromisso com a realidade da prática.

Pernambuco é sempre presente no Festival de Brasília. Como é o mercado audiovisual no seu estado?

Uma importante iniciativa que movimenta e impulsiona o cinema pernambucano é o edital do Audiovisual do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura). O Funcultura é o principal mecanismo de fomento e difusão da produção cultural no Estado. Tem proporcionado a criação e manutenção de festivais e mostras de cinema. Além da produção de curtas e longas-metragens e outros produtos para TV. Pernambuco é um celeiro de grandes artistas e intelectuais e o edital vem cada vez mais fortalecendo e profissionalizando o mercado do audiovisual. Vejo, também, surgir em Pernambuco uma geração de realizadores que trabalham com o cinema de guerrilha. Um cinema forte, expressivo e legítimo que não depende dos editais de incentivo à cultura. Essa produção independente traz uma nova oxigenação para o mercado. Uma geração que não quer mais ficar à mercê dos editais e sim buscar alternativas criativas eficazes para produção e distribuição dos seus trabalhos.

*Por Michel Toronaga – micheltoronaga@cine61.com.br

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