Auto de Resistência retrata a violência policial no Rio

O documentário Auto de Resistência está longe de ser apenas um registro histórico da infeliz violência que assola as periferias do Rio de Janeiro. Mesmo sob intervenção federal desde fevereiro, fatos recentes provam que o estado carioca está longe de ter dias tranquilos. Na última quarta (20 de junho), o adolescente Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, levou um tiro na barriga quando estava a caminho da escola, em uma das comunidades do conjunto de favelas da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Segundo a ONU, 31 homicídios de crianças e adolescentes acontecem por dia no Brasil.
Ver Marielle Franco no documentário ao lado de mães que perderam seus filhos pelos homicídios praticados pela polícia do Rio de Janeiro e lembrar que a vereadora pelo PSOL, atuante na defesa dos direitos humanos, foi assassinada com quatro tiros na cabeça, e mesmo 100 dias após o crime ter chocado o país, a polícia ainda não concluiu as investigações, prova, mais uma vez, como Auto de Resistência é um registro assustador e atual da violência que mata negros e jovens nas periferias do Brasil. Ainda segundo a ONU, em 2015, 11.403 meninos e meninas de 10 a 19 anos, foram vítimas de homicídio no país – maior número de adolescentes mortos no mundo. Os adolescentes negros são três vezes mais vulneráveis em comparação com os brancos da mesma faixa etária.
Auto de Resistência, de Natasha Neri e Lula Carvalho, retrata os homicídios praticados por policiais contra civis, no Rio de Janeiro. Inicialmente, as situações são classificadas como legítima defesa, o “auto de resistência”. A narrativa policial de acusar a vítima de ser traficante e de ter trocado tiros é posta em cheque com o surgimento de vídeos, da luta incessante de mães que perderam seus filhos e que tentam provar a inocência deles.  O filme acompanha o embate no julgamento de casos nas varas dos Tribunais do Júri, os bastidores das investigações policiais, e a Comissão Parlamentar de Inquérito estadual instaurada para apurar o alto índice de mortes decorrentes da ação policial. De janeiro a abril de 2018, 464 pessoas foram mortas pelas polícias do Estado do Rio de Janeiro.
É um documentário emocionante ao trazer as falas de mães que lutam para provar a inocência dos filhos mortos. É digno de reflexão ao retratar todo o estereótipo que o morador de favela carrega, mesmo baleado ou morto. A inocência dele sempre está em cheque, simplesmente por morar em determinada região da cidade e não em outra. O filme é interessante ao apontar o policial não como o único vilão dessa guerra, mas como todo o aparato que está por trás dele, como o Estado, que também é responsável ao permitir e ser conivente com a violência que mata todos: o negro, o jovem, o policial, a criança, a vereadora.

*Por Vinícius Remer da Silva – contato@cine61.com.br

Veja aqui o trailer do filme Auto de Resistência:





Auto de Resistência (Brasil, 2018) Dirigido por Natasha Neri e Lula Carvalho.

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