Para o público mais jovem, Hebe Camargo pode parecer apenas uma senhora de idade que tinha um programa na televisão. Mas ela foi muito mais do que isso. O longa-metragem Hebe – A Estrela do Brasil mostra uma parte da trajetória da popular artista, que se destacou por seu jeito irreverente e pensamento moderno. Com direção de Maurício Farias (O Coronel e o Lobisomem), o filme tem roteiro assinado por Carolina Kotscho, que escreveu outra cinebiografia de sucesso: 2 Filhos de Francisco: A História de Zezé di Camargo & Luciano.
Hebe começou a carreira no rádio, mas o filme foca na sua vida apenas durante a década de 1980. É quando, já madura, usava seu programa ao vivo para falar de assuntos considerados polêmicos e de causas importantes. Andrea Beltrão vive a protagonista, uma mulher com voz e forte personalidade. A atriz interpreta bem a entonação e os jeito espalhafatoso da apresentadora. Beltrão usou figurinos originais de Hebe, tudo com muito brilho e exagero. Ela, contudo, não procurou fazer uma imitação. Sua atuação é correta, como uma versão encantadora da artista.
O mais incrível é traçar um paralelo do Brasil do passado com o atual, o que comprova o pioneirismo e coragem da loira. Por exemplo, hoje o governo cria mecanismos para esconder minorias e produções audiovisuais que retratem a diversidade sexual. Naquela época, Hebe convidava para os palcos performers e celebridades trans, como a modelo Roberta Close, que já foi considerada a mulher mais bela do país. Isso num período que o assunto gay era tabu. Contra a censura, Hebe usou e abusou do seu espaço na telinha para criticar o governo, dando voz às indignações dos brasileiros. A corrupção, que existia e ainda existe hoje, é retratada de forma leve, embora seja possível dizer que o tema principal do filme seja a força de Hebe como comunicadora e formadora de opinião.
A produção também abre espaço para a vida pessoal de Hebe, mostrando seu segundo casamento e sua relação com o filho. São momentos não muito divulgados e que também merecem atenção. No elenco do filme também estão Danton Mello, Marco Ricca, Gabriel Braga Nunes e Daniel Boaventura, como Silvio Santos. Andrea Beltrão se destaca do início ao fim, com o carisma e o brilho que o papel exige. O resultado é um trabalho com um ótimo propósito: fazer um registro e homenagem sobre a importância dessa imortal figura televisiva na sétima arte.