O Pintassilgo traz trama rasa e não ousa aprofundar

O quanto uma tragédia pode afetar a vida de alguém? Essa talvez seja a grande questão por trás do novo longa de John Crowley (Brooklin). Passeando por duas linhas temporais, o filme conta a história de Theodore Deck (Ansel Elgort/Oakes Fegley), um jovem nova-iorquino que perde sua mãe, quando criança, em um atentado terrorista enquanto visitava um museu. De frente ao caos, Theo acaba levando um dos quadros do acervo, O Pintassilgo, que se torna o elo entre o garoto e a tragédia vivenciada e que afetará sua vida dali pra frente.

A adaptação do romance homônimo da escritora estadunidense Donna Tartt resulta em uma obra de 149 minutos que parece não ter tempo suficiente para se desenvolver. Girando em torno do fatídico dia da explosão no Museum of Modern Art, o enredo se ancora no momento e não muito além. De forma intencional ou não, O Pintassilgo não se preocupa em se aprofundar nas camadas das personagens, subaproveitando um elenco notável com Nicole Kidman, Jeffrey Wright (Westworld) e Sarah Paulson (American Horror Story), e o próprio Ansel Elgort (Em Ritmo de Fuga), que entrega uma atuação esforçada e competente, não muito além. O enxugamento descompensado da obra original é visível, tornando um filme que permanece na superfície e não ousa mergulhar. Infelizmente, o longa se prende a óbvia metáfora entre o pássaro do quadro e a vida de Theo e escolhe o caminho mais fácil: se desenvolver em volta do ponto, não mais que isso.

Esteticamente, a fotografia de O Pintassilgo é escura de um jeito melancólico e adaptável, mais contrastada e com uma maior presença de cores frias durante o convívio de Theo com a família Barbour em Nova Iorque. E ganha tons arenosos e pouco saturados nos momentos com o pai problemático (Luke Wilson) e na companhia do grande amigo Boris (Finn Wolfhard) em meio ao deserto de Nevada. A composição de cenários é louvável, criando uma ambiência crível e cuidadosa, enchendo os olhos pela meticulosidade.

Pouco presente, o que não é negativo aqui, e pontual, a trilha sonora de Trevor Gureckis é bastante assertiva, minimalista nos dois primeiros atos e inflamada no último, acompanhando de mãos dadas os acontecimentos da trama. Vale ressaltar que Trevor também trabalhou na trilha do nacional A Menina Índigo, de Wagner de Assis, mas não há tanta semelhanças que relacionem uma obra com a outra. O trabalho é singular e íntimo em cada longa. Palmas para Gureckis!

O Pintassilgo prometia muito, mas não cumpre suas promessas. Belo aos olhos e aos ouvidos e com alguns acertos, o novo longa de John Crowley decepciona ao desperdiçar um elenco forte a meros coadjuvantes que servem como apoio dramático para o enredo e ao transformar um livro de mais de 700 páginas em um filme que gira em círculos e não ousa em se aprofundar em suas nuances. Talvez, toda a problemática se resolveria com a divisão em mais de um filme ou em adaptação para a televisão.

*Por Igor Tarcízio – Especial para o Cine61

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